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Biodiesel tem borra? Como solução ambiental pode ser problema para carros a diesel

Biodiesel tem borra? Como solução ambiental pode ser problema para carros a diesel

O aumento da mistura de biocombustíveis aos combustíveis fósseis tem sido celebrado pelos benefícios ambientais, especialmente pela redução das emissões de carbono. As mudanças nas formulações, porém, também têm deixado alguns motoristas apreensivos. Isso ocorre tanto em carros a gasolina quanto em veículos a diesel.

No caso dos automóveis a gasolina, o impacto é menor, já que cerca de 85% da frota nacional é flex. Entre os veículos a diesel — como picapes e caminhões —, porém, há relatos de consumidores que associam a maior proporção de biodiesel ao surgimento de problemas mecânicos.

Esse é o caso do gerente de logística Marco Correa, responsável por uma frota com oito caminhões a diesel. Ele tem notado que os seus veículos passaram a apresentar borra nos tanques. Com isso, o filtro Racor (encarregado de separar água e impurezas do diesel) entope e os motores perdem potência.

Água compromete o motor e os filtrosAcervo/Quatro Rodas

“O que chamou atenção é que o filtro Racor é trocado a cada 20.000 km sempre, e nós identificamos corrosão, pelo fato de o óleo diesel absorver umidade”, conta Correa, que precisou consertar os bicos injetores dos motores. “De alguma forma passou sujeira e contaminou os bicos injetores dos caminhões”, afirma. Ele diz que antes chegava a rodar 700.000 km com os veículos, sem necessidade de manutenção nas bombas injetoras, mas este ano já teve que mexer nisso três vezes.

A mistura de biodiesel ao diesel vem aumentando de forma gradativa, desde 2005 (veja quadro abaixo). Mas, este ano, a partir de agosto, atingiu sua maior proporção até agora: 15%.

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O professor de engenharia mecânica da FEI, Fernando Fusco, defende a adoção do biocombustível, mas alerta para cuidados. “Pelo fato do diesel ser um combustível higroscópico, que absorve água ao longo do tempo, característica que é intensificada pela maior concentração de biodiesel, a recomendação é evitar períodos longos de permanência do combustível no tanque sem uso, por exemplo, acima de 30 dias”, diz. “Outro cuidado é realizar a drenagem da água acumulada no filtro, que é solicitada através do painel de instrumentos em alguns veículos.”

Combustíveis renováveis diminuem emissões de CO2Divulgação/Quatro Rodas

Segundo o engenheiro Camilo Adas, conselheiro de tecnologia e transição energética da SAE Brasil e especialista em biocombustíveis, há relatos práticos de que o B15 (diesel com 15% de mistura) suportou até três meses sem modificação das suas características químicas, quando armazenado nas condições adequadas.

Para ele, os riscos são os mesmos que ocorrem com qualquer combustível quando não se seguem boas práticas: contaminação, formação de borras e falhas no sistema.

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Limpeza do tanque de combustível é necessária

Em casos extremos, com grande contaminação de água no combustível, situação em que a drenagem da água acumulada no filtro de combustível já não é suficiente, recomenda-se a substituição do combustível do tanque, a lavagem do recipiente ou até do sistema de combustível.

“A limpeza periódica do tanque é uma prática recomendada para qualquer combustível, não apenas para misturas com biodiesel. Postos e veículos devem seguir procedimentos padronizados para inspeção e manutenção, garantindo a integridade do sistema”, afirma o engenheiro da SAE.

Água acumulada no filtro de um veículo a dieselAcervo/Quatro Rodas

A manutenção ocorre da seguinte forma: o tanque é retirado e levado para uma empresa de limpeza. Profissionais aplicam descontaminante e um jato de água sob pressão. Após a operação, é feita a secagem e o tanque retorna para montagem.

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A periodicidade da lavagem varia de acordo com o uso do veículo e a qualidade do diesel utilizado. Geralmente, a necessidade da lavagem só é notada no momento da manutenção, em que ocorre o acúmulo no filtro.

“Fiz uma limpeza este ano em dois veículos”, diz o frotista Correa. Segundo ele, “o custo maior é da oficina em desmontar e levar os tanques, mas fica em torno de R$ 600 cada”, na região de Mauá, na Grande São Paulo.

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Questionado sobre o uso de aditivos, o professor da FEI afirma que “o produtor já deve adicionar aditivo antioxidante ao biodiesel, conforme prescreve a resolução ANP no 920 de 2023. O dono do veículo pode utilizar os aditivos indicados pelas fabricantes no Manual do Proprietário, mas este uso é dispensável em condições normais de utilização do veículo, quando não há longos períodos sem utilização, o que garante a renovação frequente do combustível do tanque”.

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A SAE Brasil também condena improvisar com aditivos disponíveis no mercado. Apenas os aditivos homologados pelos fabricantes de combustíveis ou pelas montadoras devem ser utilizados, pois são desenvolvidos para garantir compatibilidade e desempenho. A periodicidade do uso deve seguir as orientações do fabricante do veículo e do combustível.

Os especialistas dizem que veículos mais antigos podem utilizar B15 normalmente. Em muitos casos, o biodiesel contribui para reduzir a emissão de fumaça preta, graças à presença de oxigênio na molécula.

Os cuidados necessários com carros com biodiesel

De forma geral, os especialistas recomendam:

• Evite deixar o tanque cheio por mais de 30 dias parado;

• Fique atento ao filtro de combustível e sua troca;

• Em caso de contaminação, se identificar algo diferente no filtro ou perda de potência do veículo, procure ajuda profissional;

• A lavagem periódica do tanque pode ser uma solução;

• Além dos cuidados com o combustível, o plano de manutenção dos veículos deve ser seguido à risca, lembrando que a especificação correta do combustível e dos lubrificantes é fundamental para a vida útil dos sistemas de pós-tratamento de emissões de poluentes

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Histórico do biodiesel

Sancionada em 2024, a Lei do Combustível do Futuro incentiva a produção e o uso de biocombustíveis. Mas o diesel passou a ter a adição obrigatória de biodiesel no Brasil a partir de 2004, em caráter experimental.

2005: Lei no 11.097/2005 estabeleceu a mistura obrigatória

2008: início da mistura de 2%

2010: de 2% para 5%

2018: de 5% para 7%

2021: de 7% para 10%

2023: de 10% para 12%

2024: de 12% para 14%

2025: de 14% para 15% (B15)

2030: há discussões sobre potencial aumento para 20-25% a partir de 2030

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